Você conhece o ditado popular: "Se melhorar, estraga"? Não
é assim que pensam os cientistas da European
Space Agency (ESA) e da National
Aeronautics and Space Administration (NASA). Responsáveis pelo
lançamento e operação do Hubble
Space Telescope (HST), um dos maiores sucessos científicos dos
últimos tempos, a ESA e a NASA, pela terceira vez, estão realizando uma
missão espacial com o objetivo de melhorar os equipamentos do Hubble
Space Telescope.
O sucesso do Huble Space Telescope
Lançado em 1990, o Telescópio Espacial Hubble (Hubble Space Telescope) não
é, ao contrário do que muitos pensam, um projeto apenas norte-americano.
O HST é um projeto de cooperação internacional entre a ESA e a NASA.
Esta parceria, assinada no dia 7 de outubro de 1977, garante aos astrônomos
europeus acesso a 20% do tempo de observação do HST.
Com 12 anos de idade o Hubble Space Telescope tem revelado àqueles
interessados em astronomia, profissionais ou não, incríveis descobertas
científicas. Durante este período, o HST obteve 420000 fotografias de
objetos astronômicos e observou mais do que 17000 objetos astronômicos.
Para o público geral as imagens obtidas pelo HST tem mostrado um Universo
digno dos melhores artistas de ficção científica. Pilares gasosos,
indescritíveis nebulosas
planetárias, galáxias
em interação e a fantástica imagem-mosaico de um Universo ainda bem
primitivo, o "deep space field".
O impacto científico do HST é fenomenal. Aos astrônomos profissionais
as insuperáveis imagens do HST revelaram um universo ainda desconhecido,
desafiando-os com mais perguntas do que respostas. As questões levantadas
pelo HST abriram um leque incrível de desafios científicos para os
cientistas.
Se está tão bom prá que mudar?
Ocorre que a tecnologia usada pelo HST também tem tido um incrível
desenvolvimento ao longo dos 12 anos de uso do telescópio espacial.
As fantásticas contribuições do HST só foram possíveis a partir de
uma cuidadosa estratégia de manutenção e atualização dos seus
equipamentos durante este período. A ESA e a NASA desenvolveram uma política
de, a cada dois ou tres anos, realizar mudanças nos equipamentos do HST
com o objetivo de mantê-lo com o que há de mais sofisticado e moderno em
termos de detectores, câmeras e periféricos eletrônicos e mecânicos.
Durante o seu tempo de vida, o HST já teve várias visitas. Em 1993, 1997
e 1999, astronautas a bordo do Space Shuttle realizaram arriscadas missões
espaciais de abordagem e troca de equipamentos do telescópio espacial. A
missão realizada em 1999, originalmente planejada como uma missão única,
acabou sendo dividida em duas partes, chamadas de 3A e 3B. A parte 3A foi
feita com urgência no final de 1999 tendo em vista a necessidade de
trocar os giroscópios do HST, responsáveis pela sua estabilidade em órbita.
No dia 1 de março de 2002, exatamente às 11 horas e 22 minutos, o Space
Shuttle Columbia foi lançado para realizar a parte 3B desta missão, a
troca de vários equipamentos científicos e manutenção técnica
preventiva. A imagem ao lado mostra o momento exato em que o Columbia
iniciava a sua missão.
O que vai ser feito
Difícil, delicada seriam bons adjetivos para descrever a missão dos
astronautas do Space Shuttle que farão as mudanças no HST. Nos próximos
11 dias os sete astronautas do Space Shuttle Columbia realizarão a mais
ambiciosa missão já realizada no Hubble Space Telescope. São vários
serviços que exigirão extensas caminhadas espaciais e um duro trabalho.
Os principais serviços científicos serão:
- colocação de uma nova câmera digital - a ACS - para ampliar a
visão do Hubble Space Telescope
- recolocação do Nicmos - Near Infrared câmera and Multi-Object
Spectometer
A nova câmera do HST: Advanced câmera for Surveys (ACS)
A nova câmera a ser colocada no HST faz parte de um conjunto de novos
intrumentos designado como "terceira geração do HST". Esta
nova câmera, a ACS, é uma das mais importantes substituições a serem
feitas no HST. Ela deverá substituir a espetacular Wide Field and
Planetary câmera (WFPC2) que foi extremamente bem sucedida.
O campo de visão da ACS é, aproximadamente, duas vezes maior do que o da
WFPC2 e, com sua super qualidade de imagem e altíssima sensitividade,
aumentará o poder de resolução do HST por um fator de 10! Uma das
grandes vantagens da ACS é que, graças ao seu tamanho, irá permitir o
mapeamento de grandes áreas do céu com muitos detalhes, o que é
fundamental para a cosmologia.
Por ser uma câmera com alta eficiência em um intervalo de comprimentos
de onda que se extendem do ultravioleta,
passando pelo visível
e indo até o infravermelho
próximo a ACS estará apta a revelar galáxias e aglomerados
de galáxias existentes em uma época quando o Universo ainda
muito jovem. A distribuição destes objetos é fundamental para que os
cientistas descubram os processos de evolução do Universo.
Na verdade a ACS é composta por três sub-instrumentos, três arrojadas câmeras
eletrônicas com um complemento de filtros que detectam radiação
eletromagnética do ultravioleta até o infravermelho próximo,
ou seja, de 1200 a 10000 Ångstrons:
- Wide Field câmera: câmera no infravermelho próximo e no óptico
de amplo campo e alta eficiência.
- High Resolution câmera: câmera desenvolvida para obter imagens
extremamente detalhadas, em alta resolução, de objetos complexos
tais como o centro de galáxias com buracos
negros de grande massa, aglomerados estelares e nebulosas
gasosas. esta câmera também funciona como um coronógrafo capaz de
melhorar, por um fator de 10, o contraste das imagens obtidas com o
HST perto de fontes brilhantes.
- Solar Blind câmera: câmera capaz de bloquear a luz visível
para permitir que a fraca radiação ultravioleta possa ser
registrada. Isto permitirá o estudo de modelos de atmosferas em
outros planetas
e das auroras que já foram registradas em Júpiter.
A ACS foi construída por um conjunto de centros de excelência dos
Estados Unidos e da Europa, destacando-se a Johns
Hopkins University, Goddard
Space Flight Center, Ball Aerospace Corporation e Space
Telescope Science Institute.
Um retorno ansiosamente esperado: Nicmos
O Nicmos é um instrumento de observação no infravermelho, com altíssima
definição, e que foi originalmente instalado no HST na segunda missão
de serviços, em fevereiro de 1997. Por operar no infravermelho, o Nicmos
deveria ser esfriado a uma temperatura muito baixa de forma que o seu próprio
calor não prejudicasse as observações feitas com ele. Infelizmente este
sistema de refrigeração deu defeito e em janeiro de 1999 o nitrogênio
usado na sua refrigeração evaporou e o equipamento teve que ser
desligado.
A nova missão deverá instalar um novo tipo de sistema de esfriamento que
baixará a temperatura do Nicmos para 77 K,
cerca de -196o C. Este novo equipamento, chamado Nicmos
CryoCooler - NCC, é um super quieto resfriador que usa microturbinas
dotadas da velocidade surpreendentemente alta de mais de 400000 rotações
por minuto! Este novo sistema irá "acordar" o Nicmos e ampliar
sua vida por vários anos. Os astrônomos aguardam ansiosos os
surpreendentes resultados científicos que surgirão a partir do uso contínuo
deste fantástico equipamento.
Outras mudanças importantes
- colocação de novos painéis solares:
os atuais painéis solares do HST já são um segundo conjunto. Os
painéis originais foram substituídos em dezembro de 1993 durante a
primeira missão de serviços no HST. Este segundo conjunto já está
em serviço há sete anos e tem desempenhado sua missão com maestria.
No entanto, o espaço não é um ambiente tranquilo e os painéis
deterioraram-se muito graças ao impacto de resíduos deixados em seu
caminho e aos efeitos da radiação solar. Os novos painéis, um
orgulhoso trabalho desenvolvido pela ESA, são mais rígidos, menores
e mais robustos. Isto reduzirá as vibrações do HST, permitindo
exposições mais longas de suas câmeras e, conseqüentemente,
imagens mais nítidas. Seu tamanho menor diminui o atrito com a
atmosfera superior da Terra e sua maior eficiência permitirá que
mais instrumentos do HST possam ser usados simultaneamente pelos
cientistas.
- substituição da Power Control Unit (Unidade de Controle de Potência):
A unidade de controle de potência atualmente em uso no HST ainda é a
original. Após 11 anos de uso, pela primeira vez o HST será
completamente desligado para que ela possa ser substituída por uma
unidade mais moderna e mais poderosa.
- uma nova cobertura para o HST:
A parte exterior do HST é revestida por uma série de
"cobertores térmicos", chamados de "Multi Layer
Insulation (MLI)" que mantém o telescópio termicamente isolado
e protegido. Este revestimento está mostrando sinais de danos e
deterioração devido a colisões com resíduos, tais como restos de
foguetes e pedaços pequenos de velhos satélites, que estão em órbita
em torno da Terra. A troca deste revestimento, iniciada na missão de
serviço 3A em 1999, deverá ser terminada agora antes que partes
destes resíduos possam danificar o telescópio orbital.
Uma outra tarefa importante a ser realizada pela tripulação do Space
Shuttle nesta missão é dar um pequeno "empurrãozinho" no HST
de modo que ele retorne para uma órbita mais alta. O HST está em órbita
a 600 km de altura e, embora a atmosfera da Terra seja bastante rarefeita
nesta altitude, ela não é um vácuo perfeito. Isto significa que sempre
há atrito e o HST perde altitude. Inicialmente ele estava a 615 km da
Terra e já chegou a estar a 580 km, o que mostra que se a altitude não
for restaurada, o satélite será atraido para a Terra e, conseqüentemente
destruído. O HST não possui propulsão própria. A única maneira dele
voltar a uma órbita alta é, durante as missões de serviço, o Space
Shuttle dar um leve empurrãozinho no HST fazendo com que ele se afaste do
nosso planeta. Isto já foi feito antes. Em 1993, o HST foi empurrado 8 km
para cima e em 1997 seu "reboque" foi de 15 km.
Onde saber mais sobre a missão
Se você quer acompanhar a missão do Space Shuttle, inclusinclusive com
videos da operação e das caminhadas espaciais, vá para o site oficial
do Hubble Project, Servicing Mission 3B em http://sm3b.gsfc.nasa.gov |